terça-feira, 20 de agosto de 2013

Avatar

Agradeço a contribuição de todos os profissionais que tem a coragem para exporem e exprimirem a sua opinião. Só assim podemos nos forjar de novas ferramentas para servir quem nos procura. Pois trabalhamos para os seus interesses. 

Sem dúvida, são os Assistentes Sociais os profissionais que se encontram enredados nas dinâmicas familiares e se relacionam diretamente com o sistema familiar. 

São estes que trabalham diariamente com confidencialidade, seriedade, criatividade na celeridade de soluções mais adequadas à (s) pessoa (s) quer seja no sistema individual, parental, conjugal, fraternal ou outros sistemas! 

É a este profissional que lhe é exigido a resposta a uma série de espetativas nesse processo de transformação.

Ler uma família implica ter o conhecimento e uma visão geral da sua estrutura e funcionamento. As relações familiares têm um quadro legal próprio e dependendo do organismo, onde os profissionais exercem a sua função e o sintoma encontrado, o encaminhamento pode ser uma alternativa para encontrar a resolução mais adequada. 

É também o Assistente Social que interage com os intervenientes e obviamente com conflito. Mas é este processo complexo que se torna recompensador porque implica um “avatar” de nós mesmos. 

São muitas vezes os Assistentes Sociais os principais ativadores de recursos familiares. 
Por isso é que o Serviço Social é um recurso extraordinariamente rico. 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

RESGATAR A PAIDEIA

       No nosso país, o alcance de altos níveis de alfabetização técnica é sobrevalorizado. Tal é importante, é certo, mas, per se, insuficiente. Não há democracia possível sem um alto nível de cultura cívica − potenciado pela cultura geral da população e pelas virtudes cívicas. É fundamental educar os cidadãos para a recusa dos dogmas, estimulando o pensamento livre e responsável. É preciso promover a participação e o debate, bem como fomentar a moderação, a tolerância e a ética cívica.

           É crucial reorientar o mundo da educação e trabalhar para o bem-estar da sociedade baseado também em valores humanistas e não orientado apenas pelo consumismo e pela procura de crescimento económico. Os estudos científicos na área da Psicologia Positiva indicam que a orientação para o sucesso individual e a riqueza não constituem, linearmente, factores que contribuem para a felicidade. Tais elementos dizem respeito a: (1) emoções positivas; (2) relações positivas; (3) existência de áreas em que podemos fluir; (4) procura de realizações; (5) resiliência; (6)uma vida com sentido e pró-social; (7) evitamento de comparações com os outros.Na Grécia Antiga, procurava-se desenvolver o Homem em todas as suas potencialidades, de forma a ser um cidadão melhor − Paideia. Nas assembleias onde os jovens se deslocavam, ocorriam debates que envolviam, por exemplo, pensamento crítico e criativo, cultura e valorização da experiência dos anciãos. O processo educativo era, então, em sentido lato, contribuindo para formar o Homem e o cidadão e prolongando-se por toda vida.
            A 10 de Dezembro de 1948, na ONU, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial, e com o intento de cimentar as bases da nova ordem internacional. Os direitos humanos são, em essência, universais, atemporais, irrevogáveis, inalienáveis e igualitários e constituem a coluna vertebral que sustenta o possível entendimento e convivência entre os Homens. Porém,a sua história não se caracteriza de forma pacífica nem linear.

            A capacidade de comunicação própria da globalização teve influência no nascimento da idade pós-contemporânea, mediante a visualização, em tempo real, dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Nos dias de hoje, a origem dos conflitos deixou de assentar nos Estados-nações,sendo agora motivada pelo confronto entre as diferenças culturais e religiosas −choque de civilizações (cf. SamuelHuntington).

            A universalidade dos direitos humanos constitui o grande repto do século XXI,devendo superar o choque de civilizações.A ponte através da qual é possível superar os antagonismos entre universalismo e singularidades culturais parece assentar no multiculturalismo, a partir do qual é possível compreender os fundamentos de cada uma das diversas culturas que fazem parte do nosso mundo global. O que se pretende é que as pessoas entendam e aceitem a diversidade, tal passando pela educação e pela reflexão crítica de crenças, valores e preconceitos. Em suma, trata-se de levar a todo o planeta um marco mínimo de respeito entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre elas. A partir deste marco − direitos fundamentais −, cada povo tem a máxima liberdade de expressar as suas tradições e crenças.

            O objectivo principal de uma sociedade deve ser o seu desenvolvimento em termos holísticos (material, psicológico,cultural e espiritual), em harmonia com o planeta − desenvolvimento sustentável.É, então, crucial que trabalhemos para uma nova humanidade, mais informada, assertiva, resiliente, livre e cívica, no sentido de podermos viver num mundo com mais dignidade, tolerância, funcionalidade, positividade, tranquilidade, prosperidade,sustentabilidade e felicidade.


Andreia Maria; Joana Santos

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Assistente Social e os Colaboradores. É preciso abrir horizontes!

Qual é o papel do Técnico na intervenção com grupos de colaboradores em IPSS?

O principal objetivo não é fazer uma reflexão teórica, mas sim prática do dia a dia da intervenção do/a Assistente Social em grupo, nomeadamente junto dos colaboradores em duas IPSS´S do concelho de Trancoso.

Este artigo foi elaborado com reflexões pessoais resultantes da experiência de Assistentes Sociais (com quatro e seis anos de experiência respetivamente), mas bastante semelhantes em termos da dinâmica e relacionamento do grupo. 
Trata-se de um artigo realizado em conjunto, pelas duas Assistentes Sociais, com o recurso a provérbios populares (utilizados muitas vezes na prática e dia a dia).

Entendemos que a utilização de provérbios não se trata, evidentemente, de um conhecimento científico, mas é, para nós, um tipo de saber que não deve ser ignorado e muito menos desprezado por ter as suas vantagens.

A pergunta que queremos fazer é a seguinte: “Qual é o papel do técnico na intervenção com grupos de colaboradores em IPSS ?”

A fase da entrevista e recolha de informação
No início quando conhecemos o grupo dos colaboradores surgem, por vezes, dificuldades, uma vez que se desconhece a sua dinâmica bem como a sua composição. Por outro lado, também surge a vontade primordial de tudo fazer, tudo conhecer, tudo resolver. Não por imposição, simplesmente por vontade e empenho de fazer bem. Por este motivo, para conhecer o grupo recorre-se à entrevista com cada um dos membros (mesmo que de modo informal). Através dessa entrevista recolhem-se informações importantes, relacionadas com a motivação e características das pessoas. Pode-se, assim, percecionar em que medida fatores como a categoria, sexo, idade e características de personalidade de cada um poderão influenciar a coesão do grupo.

A preparação académica dá-nos ferramentas para iniciar este percurso, mas o relacionamento, o tempo de observação e a escuta do outro é que permitirá perceber a individualidade de cada pessoa no contexto da IPSS. O conjunto dessas várias individualidades é o que formam as IPSS.
O provérbio “Muito poucos, fazem muito” confirma que muitas vezes deduzimos que uma equipa simples e pequena, não faz muito, mas na verdade poderá fazer um bom trabalho.

Os valores e o equilíbrio
Consideramos então, que a humildade, o saber ser e estar são valores inerentes à personalidade do Assistente Social, valores esses que podem agregar as relações de/ e entre colaboradoras e, consequentemente permitirem o sucesso das mesmas.
Para nós, o papel do Assistente Social em grupo surge como catalisador ou motivador através da comunicação. É no grupo que se recebem estímulos, pois existe maior oportunidade de crescimento pessoal, amadurecimento e aprendizagem das partes. Desta reflexão, concordamos com o critério que sugere equilíbrio entre a homogeneidade e heterogeneidade do grupo. Por isso, para nós, nenhum membro do grupo deve aparecer isolado.

É também em grupo que se podem explorar e tomar consciência de aspetos individuais que nos dizem respeito (as minhas emoções, as minhas ideias, os meus valores e a minha experiência). O trabalho em grupo permite a experimentação e a aquisição de novas atitudes e comportamentos. Contudo, este papel também nos permite ser “aqueles” ou “aquelas” que dão apoio, que dão certezas que os direitos são assegurados, (ou pelo menos não são esquecidos), que escutam ou que simplesmente estão ali, além dos assuntos formais inerentes à IPSS, para perguntar pela família, para trocar receitas, comentar novelas e até para falar do tempo!

Importante será assumir a tarefa de facilitar os processos individuais e do grupo de modo a existir um equilíbrio. Ou seja, promover e incentivar atitudes de aceitação; atitudes de apoio; atitudes altruístas e atitudes construtivas. Como? O provérbio popular diz-nos que "Uma grama de exemplos vale mais que uma tonelada de conselhos".

Consideramos o contexto dos colaboradores por natureza extremamente complexos, pela sua diversidade de saberes, de pessoas, de conhecimentos, de opiniões, enfim… de Humanos com as suas “manhas e artimanhas”. Por isto, surge o grande papel de mediação que os Assistentes Sociais possuem dentro da IPSS. Confirma-se! Papel este, que nos desgasta e que nos conduz muitas vezes ao conflito, à mudança de opiniões e, em alguns casos, até a descrença ideológica e de práticas profissionais. 

A superação do conflito
Reconhecemos: é fundamental reduzir os fatores de conflito, o que nem sempre é simples, pois o grupo constrói as suas próprias normas e modelos de comportamento do que “deve” e “não deve”. Por isso, a atitude adotada é aquela “do aqui e do agora” para esclarecer o conflito encontrado.

“Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje” - Esta frase aplica-se à organização pessoal de cada um. Logo, se tem tempo para fazer hoje, porquê estar a adiar o que tem de ser feito? Por isso mesmo, quando sentimos que temos algo para dizer ou fazer, há que não ter preguiça, e educadamente, motivarmo-nos e falar/fazer. No futuro essa experiência confirmará o progresso do grupo.
Após o conflito, os membros podem recolher energias e dar-lhes outro propósito, um caminho diferente do anterior para o espaço da individualidade, respeito e iniciativa pessoal. Porque “O caminho faz-se caminhando”.

Se o Assistente Social encorajar as pessoas a exprimirem sentimentos positivos, ou seja, o que aprenderam e qual foi a experiência, a comunicação fica mais solta e os membros tornam-se mais colaborantes.
A complementaridade e a diferença enriquecem e dão identidade, motivação, esperança, mudança de atitude e espírito crítico para avançarmos diariamente. Muito mais haveria para referir sobre esta diversidade tão vasta em torno dos colaboradores.

Este artigo permitiu repensarmos sobre o papel do Assistente Social nas instituições que intervêm na comunidade, que por sua vez, intervêm com um mundo em permanentemente mudança. Logo, concluímos que o bem-estar dos colaboradores implica o bem-estar das suas famílias e consequentemente dos utentes que beneficiam de melhor qualidade de vida. O trabalho em grupo permite ainda o desenvolvimento das competências sociais, da responsabilidade e do bem comum.

O Assistente Social é um dos principais co responsáveis pelo bem-estar e desenvolvimento dos colaboradores. Para existir equilíbrio entre o grupo dos colaboradores, um dos primeiros passos que o Assistente Social tem de fazer é valorizar as pessoas que o constituem, dignificando-os quer do ponto de vista simbólico quer do ponto de vista material.

Assumir uma atitude de reconhecimento de que o seu trabalho é essencial e que as tarefas que executam são exigentes e desgastantes é valorizar e garantir o suporte de que não estão sozinhos nos cuidados à pessoa idosa.

Para finalizar, terminamos com o proverbio chinês, pois a procura incansável de soluções e respostas inovadoras (a longa viagem) começa por um passo: "A longa viagem começa por um pequeno passo.”

Andreia Maria e Cátia Costa
(Assistentes Sociais)


Artigo publicado na revista da ESTGL - Instituto Politécnico de Viseu, Julho 2013, disponível em http://us7.campaign-archive2.com/?u=77accf90bd4e44bafdc9fb5e9&id=72c6afd3b4