terça-feira, 9 de julho de 2013

O Assistente Social e os Colaboradores. É preciso abrir horizontes!

Qual é o papel do Técnico na intervenção com grupos de colaboradores em IPSS?

O principal objetivo não é fazer uma reflexão teórica, mas sim prática do dia a dia da intervenção do/a Assistente Social em grupo, nomeadamente junto dos colaboradores em duas IPSS´S do concelho de Trancoso.

Este artigo foi elaborado com reflexões pessoais resultantes da experiência de Assistentes Sociais (com quatro e seis anos de experiência respetivamente), mas bastante semelhantes em termos da dinâmica e relacionamento do grupo. 
Trata-se de um artigo realizado em conjunto, pelas duas Assistentes Sociais, com o recurso a provérbios populares (utilizados muitas vezes na prática e dia a dia).

Entendemos que a utilização de provérbios não se trata, evidentemente, de um conhecimento científico, mas é, para nós, um tipo de saber que não deve ser ignorado e muito menos desprezado por ter as suas vantagens.

A pergunta que queremos fazer é a seguinte: “Qual é o papel do técnico na intervenção com grupos de colaboradores em IPSS ?”

A fase da entrevista e recolha de informação
No início quando conhecemos o grupo dos colaboradores surgem, por vezes, dificuldades, uma vez que se desconhece a sua dinâmica bem como a sua composição. Por outro lado, também surge a vontade primordial de tudo fazer, tudo conhecer, tudo resolver. Não por imposição, simplesmente por vontade e empenho de fazer bem. Por este motivo, para conhecer o grupo recorre-se à entrevista com cada um dos membros (mesmo que de modo informal). Através dessa entrevista recolhem-se informações importantes, relacionadas com a motivação e características das pessoas. Pode-se, assim, percecionar em que medida fatores como a categoria, sexo, idade e características de personalidade de cada um poderão influenciar a coesão do grupo.

A preparação académica dá-nos ferramentas para iniciar este percurso, mas o relacionamento, o tempo de observação e a escuta do outro é que permitirá perceber a individualidade de cada pessoa no contexto da IPSS. O conjunto dessas várias individualidades é o que formam as IPSS.
O provérbio “Muito poucos, fazem muito” confirma que muitas vezes deduzimos que uma equipa simples e pequena, não faz muito, mas na verdade poderá fazer um bom trabalho.

Os valores e o equilíbrio
Consideramos então, que a humildade, o saber ser e estar são valores inerentes à personalidade do Assistente Social, valores esses que podem agregar as relações de/ e entre colaboradoras e, consequentemente permitirem o sucesso das mesmas.
Para nós, o papel do Assistente Social em grupo surge como catalisador ou motivador através da comunicação. É no grupo que se recebem estímulos, pois existe maior oportunidade de crescimento pessoal, amadurecimento e aprendizagem das partes. Desta reflexão, concordamos com o critério que sugere equilíbrio entre a homogeneidade e heterogeneidade do grupo. Por isso, para nós, nenhum membro do grupo deve aparecer isolado.

É também em grupo que se podem explorar e tomar consciência de aspetos individuais que nos dizem respeito (as minhas emoções, as minhas ideias, os meus valores e a minha experiência). O trabalho em grupo permite a experimentação e a aquisição de novas atitudes e comportamentos. Contudo, este papel também nos permite ser “aqueles” ou “aquelas” que dão apoio, que dão certezas que os direitos são assegurados, (ou pelo menos não são esquecidos), que escutam ou que simplesmente estão ali, além dos assuntos formais inerentes à IPSS, para perguntar pela família, para trocar receitas, comentar novelas e até para falar do tempo!

Importante será assumir a tarefa de facilitar os processos individuais e do grupo de modo a existir um equilíbrio. Ou seja, promover e incentivar atitudes de aceitação; atitudes de apoio; atitudes altruístas e atitudes construtivas. Como? O provérbio popular diz-nos que "Uma grama de exemplos vale mais que uma tonelada de conselhos".

Consideramos o contexto dos colaboradores por natureza extremamente complexos, pela sua diversidade de saberes, de pessoas, de conhecimentos, de opiniões, enfim… de Humanos com as suas “manhas e artimanhas”. Por isto, surge o grande papel de mediação que os Assistentes Sociais possuem dentro da IPSS. Confirma-se! Papel este, que nos desgasta e que nos conduz muitas vezes ao conflito, à mudança de opiniões e, em alguns casos, até a descrença ideológica e de práticas profissionais. 

A superação do conflito
Reconhecemos: é fundamental reduzir os fatores de conflito, o que nem sempre é simples, pois o grupo constrói as suas próprias normas e modelos de comportamento do que “deve” e “não deve”. Por isso, a atitude adotada é aquela “do aqui e do agora” para esclarecer o conflito encontrado.

“Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje” - Esta frase aplica-se à organização pessoal de cada um. Logo, se tem tempo para fazer hoje, porquê estar a adiar o que tem de ser feito? Por isso mesmo, quando sentimos que temos algo para dizer ou fazer, há que não ter preguiça, e educadamente, motivarmo-nos e falar/fazer. No futuro essa experiência confirmará o progresso do grupo.
Após o conflito, os membros podem recolher energias e dar-lhes outro propósito, um caminho diferente do anterior para o espaço da individualidade, respeito e iniciativa pessoal. Porque “O caminho faz-se caminhando”.

Se o Assistente Social encorajar as pessoas a exprimirem sentimentos positivos, ou seja, o que aprenderam e qual foi a experiência, a comunicação fica mais solta e os membros tornam-se mais colaborantes.
A complementaridade e a diferença enriquecem e dão identidade, motivação, esperança, mudança de atitude e espírito crítico para avançarmos diariamente. Muito mais haveria para referir sobre esta diversidade tão vasta em torno dos colaboradores.

Este artigo permitiu repensarmos sobre o papel do Assistente Social nas instituições que intervêm na comunidade, que por sua vez, intervêm com um mundo em permanentemente mudança. Logo, concluímos que o bem-estar dos colaboradores implica o bem-estar das suas famílias e consequentemente dos utentes que beneficiam de melhor qualidade de vida. O trabalho em grupo permite ainda o desenvolvimento das competências sociais, da responsabilidade e do bem comum.

O Assistente Social é um dos principais co responsáveis pelo bem-estar e desenvolvimento dos colaboradores. Para existir equilíbrio entre o grupo dos colaboradores, um dos primeiros passos que o Assistente Social tem de fazer é valorizar as pessoas que o constituem, dignificando-os quer do ponto de vista simbólico quer do ponto de vista material.

Assumir uma atitude de reconhecimento de que o seu trabalho é essencial e que as tarefas que executam são exigentes e desgastantes é valorizar e garantir o suporte de que não estão sozinhos nos cuidados à pessoa idosa.

Para finalizar, terminamos com o proverbio chinês, pois a procura incansável de soluções e respostas inovadoras (a longa viagem) começa por um passo: "A longa viagem começa por um pequeno passo.”

Andreia Maria e Cátia Costa
(Assistentes Sociais)


Artigo publicado na revista da ESTGL - Instituto Politécnico de Viseu, Julho 2013, disponível em http://us7.campaign-archive2.com/?u=77accf90bd4e44bafdc9fb5e9&id=72c6afd3b4

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