segunda-feira, 2 de junho de 2014

"Espectadoras de circo" de Claudia Morais - Pessoas

 "Imagine que você está a tentar resolver um problema na canalização lá de casa. É tarde, você está cansado e a última coisa que lhe apetece é estar encaixado debaixo do lava-loiças a realizar uma tarefa que está longe de fazer parte das suas competências. A sua mulher está ao seu lado e vai dando indicações – daquelas que o fazem sentir que está ao lado da patroa e não propriamente da amante. As frases que você ouve parecem ordens – “Mais para a direita”, “não faças assim”, “Experimenta desta forma”. Até que você volta a enganar-se e a água espalha-se num jato que o deixa encharcado. Eu aposto que a sua mulher – qual espetadora deste circo será capaz de soltar uma gargalhada estridente. Este é o momento do tudo ou nada. Você tem o poder rir de si próprio, alinhar na brincadeira e tentar “vingar-se” molhando-a também. Ainda que logo de seguida tenham – ambos – uma cozinha por limpar, aquelas gargalhadas saber-lhes-ão pela vida. Porque são essas gargalhadas que lhes permitem escapar de uma explosão de nervos. Porque é dessas gargalhadas que se vão lembrar quando, anos mais tarde, alguém falar em problemas na canalização. Porque rir a dois é o melhor antídoto para os momentos de tensão."


Texto de: Claudia Morais
http://www.apsicologa.com/

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