sábado, 5 de abril de 2014

Quando dizem aos Assistentes Sociais que "A família não quer saber" - Serviço Social

Quando dizem aos Assistentes Sociais que "a família não quer saber" cada um responderá à sua maneira, mas eu respondo: "também não podemos dizer que a família não quer saber". E se me perguntarem porquê eu respondo assim: Como é que sabe que a família não quer saber? 

Quem faz esta observação desconhece que muitas das situações familiares existem devido a problemas que são comuns nas famílias: Problemas de desempenho de tarefas; Problemas de comunicação; Problemas de papeis; Problemas de controlo de comportamento; Mau funcionamento dos subsistemas ou problemas de fronteiras; problemas com os supra sistemas; problemas relacionados com a natureza e características do ambiente social mais alargado que a família faz parte;  falta de injunções directas por parte dos técnicos, entre outros. (abordagem de Philip Barker). 

Assim que o sintoma é identificado (pelo Assistente Social) e após entrevista(s) com os membros da família para que o Assistente Social possa efectuar o diagnóstico e verificar qual o tipo de problema identificado o Assistente Social escolhe o método directo de intervenção. 

Por vezes a entrevista não é fácil de gerir pois, somos confrontados com observações onde tem de se dar uma resposta imediata ao familiar, se não, perde-se o "fio à meada", correndo o risco de deixarmos os familiares ainda mais confusos.

Para além da entrevista, o Assistente Social utiliza métodos directos, que são mesmo isto: directos. O primeiro passo de todos os métodos é o estabelecimento de sintonia com a família. Por isso, é que, nem todas as pessoas conseguem fazer este trabalho, por várias razões que o condicionam: a comunicação, tipo de relacionamento; vivências já vividas no passado; etc. 

No decorrer da entrevista o problema ou problemas que são explicitados são escutados para se arquitectar um plano de acção para ultrapassá-los. Este é um processo demorado que implica tempo, até se encontrarem soluções esperadas pela família, pois a informação não chega toda de uma só vez e todos os pormenores são importantes, uma vez que podem fazer toda a diferença. Esse plano não é feito só pelo Assistente Social, mas gizado em conjunto com a família através de injunções. 

As injunções são uma forma de intervenção directa que o Assistente Social pode usar como método, pois podem fazer mudanças de "primeira ordem" mas não quer dizer que estas sejam suficientes, para determinadas famílias. Por isso é que é preciso utilizar outros tipo de abordagens, muitas vezes indirectas fazendo parte de um plano estratégico. 

Para intervirmos numa família que "não quer saber" temos de saber que: em muitos casos para haver uma mudança e alterações de perspectivas, tem de se fazer uma análise profunda do sistema familiar.

Não são os Assistentes Sociais que vão fazer com que a família queira saber a partir de um determinado momento. O processo de capacitação e externalização de problemas é um processo continuo de intervenção que pode ser repetido imensas vezes até que surjam mudanças. 

A família é que vai ultrapassar os efeitos de insegurança e redefinir os problemas: em vez de estes serem encarados como inerentes a determinados membros da família e a determinadas situações criadas pela pessoa, o problema "torna-se uma entidade separada e externa à pessoa ou relação a que se atribuiu o problema" ou seja "o problema torna-se o problema".

A externalização de problemas é um método que diminui conflitos inúteis entre pessoas e disputas sobre a responsabilidade do problema; diminui o sentimento de fracasso em resposta à persistência do problema e por quem se esforça por o resolver; prepara o caminho para que as pessoas cooperem, unido-se na luta contra o problema e fujam das influências que este possa ter na sua vida e relações; liberta as pessoas para fazerem uma abordagem do problema com menos stress dos "problemas muito graves"; apresenta alternativas de diálogo e não de monólogo sobre o problema. (abordagem de White e Epston).

O rótulo e preconceito "a família não quer saber" depende muito dos nossos valores e da minha visão do mundo. 

Por isto, quem diz que "a família não quer saber" não esta preparado para lidar com a família. Todos os Assistentes Sociais e restantes profissionais que lidam com famílias tem de estar conscientes de quais os valores que trazem e partilharão na situação das famílias que tratam e comunidades onde intervém.


 

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